SE TE NÃO AMO FALLEÇO
Instalación performativa exhibida no Gnration dentro da programación da 35 Edición dos Encontros da Imaxem en Braga, Portugal.
A música e as danças folclóricas são uma herança coletiva: nascem do povo, pertencem ao povo, e foi ele quem as cuidou e transmitiu ao longo do tempo. No entanto, quando essa tradição é preservada como um objeto morto — arquivada, estetizada, descontextualizada —, perde o seu pulso vital. A tradição deixa de ser quando se congela. Porque tradição não é repetição estática, mas transformação constante: um diálogo entre o que fomos e o que somos.
Essa reflexão leva-nos a pensar: quem tem o direito de fazer parte dessa tradição, e quem fica de fora do seu relato oficial? Ao tentar “protegê-la”, muitas vezes excluímos as dissidências que a habitam e que historicamente nela encontraram um espaço para ser. A tradição foi, e é, abrigo para quem vive à margem: dissidências sexuais e de gênero que se reconhecem na força do mundo rural, na prática do cuidado, na comunidade, na resistência. Há um vínculo profundo entre o queer e o rural: dois espaços historicamente invisibilizados, mas cheios de criatividade, afeto e dignidade.
Esta obra, portanto, convida-nos a pensar uma tradição viva, plural, onde todas as vozes possam ter lugar. Porque musealizar não pode ser sinônimo de silenciar.
Instalção feita com pel, cianotipia, cordão, cesta, lenços e fotografía de arquivo, ativada por uma performance de 20 min de duração com a colaboração de Alberto Ovejero